sábado, 30 de novembro de 2013

Do Big Show SIC - 28/11/13


Uma pessoa esquece-se de validar o cartão uma vez e de repente torna-se numa fora da lei da pior espécie ao estilo "feios, porcos e maus". Tudo a olhaaaar. Mesmo à portuguesinho! Onde é que está a veia hipster quando precisamos dela? Bando de voyeurs! Oh amigos eu pago passe mensal, podia andar de comboio de Braga pró Porto e do Porto pra Braga o dia todo - eu mais a minha bolsa, a ocupar dois lugares - e garanto que só por causa da vossa mania de passageiros ocasionais era toda eu à base do "daqui não saio, daqui ninguém me tira"! Eu tenho cartão de plástico com a minha fronha lá estampada, não ando por aí de cartão de papel todo roto como vocês! Se os passes fossem cartões de crédito o meu era dos dourados com plafom ilimitado e os vossos eram daqueles que o BPN distribuía tão carinhosamente, antes de nos arrastar a todos para as profundezas do "quem se lixa é o mexilhão" que nasce ali pós lados de Lisboa e desagua na zona pobre das casas portuguesas.

E o pica perceber isto? Tá queto! Começou-me logo a falar de contratos que eu assinei e tinha em casa e onde me comprometia a validar o bilhete. Eu não assinei nada! (E se assinei não tenho em casa.) Não fosse eu uma blogger com telhados de vidro - que já tantas vezes falei aqui da CP - e garanto que ligava à minha prima que é advogada e isto não ficava assim! 

Brincadeiras à parte, tendo eu um passe mensal que, como já expliquei, me permite andar de comboio o dia todo e fazer qualquer percurso abrangido pela zona 8 (Braga - Porto), acho um bocado ridículo ser quase apedrejada em praça pública por não ter validado o bilhete. Sinceramente, não percebo essa dinâmica no meu caso (e no caso de qualquer pessoa que tenha adquirido um passe nas mesmas condições) mas respeito-a. Há muita coisa que não compreendo e que respeito! Eu não compreendo a rudeza de um funcionário que sabe que eu paguei a viagem independentemente de não ter passado o cartão na maquineta. Porque independentemente de ir ou não no comboio, a viagem tá paga! Mas respeito. Até porque já falámos aqui antes da cortesia, educação e inteligência dos picas da CP...ou da falta dela. E eu que não sou grande fã da generalização atrevo-me a dizer que ALGUNS fazem o macaco Adriano do Big Show SIC parecer o príncipe que podia, um dia, levar-me ao altar.

Catarina Vilas Boas

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Porque não se passa rigorosamente nada no comboio #1

E esta é uma das melhores frases que eu já li nos últimos anos:

"Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza."
Boaventura de Souza Santos

sábado, 16 de novembro de 2013

Da paciência que tenho para bêbados e da que não tenho para gente estúpida - uma carta

Senhor Sérgio Mendes (o pica da CP, não o músico),

Dirijo-me a si como senhor, não porque ache que realmente o seja mas porque é o mais educado a fazer. Mas, pensando melhor, o senhor também não trata todos os passageiros da forma mais educada, portanto porque é que eu o hei-de tratar a si? Recomecemos, então...

Sérgio,
Com certeza que no decorrer da sua carreira de pica deve ter tido a sua quota de passageiros problemáticos. Não sei que tipo de formação vocês têm lá na "escola da CP" mas se aquilo que vos ensinam for o que o Sérgio fez da última vez que se viu a braços com uma situação do género então não só foi mal formado enquanto profissional mas também como pessoa, em casa, enquanto crescia.

Talvez lhe tenham feito falta alguns "babanos"... Eu também os levei! E não adiantaram de nada. Não a curto, médio ou longo prazo. E se o Sérgio os tivesse levado também chegaria a essa conclusão por si mesmo e já não os oferecia tão diligentemente a ninguém, muito menos a alguém que claramente não está na posse total das suas capacidades, mesmo que temporariamente. 

Desengane-se se pensa que eu acho que o Sérgio devia ser atacado física e/ou verbalmente e ficar quieto e calado. Não!! Eu só não acho que cantar "A minha alegre casinha" e colocar-lhe a mão no ombro seja um ataque! Tudo bem que o senhor Zé Pedro cantava mal (chamemos-lhe assim porque ele era claramente um fã dos Xutos) e estava bêbado como um cacho. Mas eu também canto (quando estou bêbeda) como um rouxinol com a gripe das aves e nunca ninguém me agrediu por causa disso. E você diz "Ah e tal, mas não o fez no comboio" - tem razão, não fiz. E se fizesse, será que o senhor me empurrava para o banco com o braço no meu pescoço e me oferecia porrada? Hmm, talvez não... Talvez porque eu tenho uma cara lavadinha, não cheiro mal, e a minha roupa não está remendada e coçada... Talvez porque tenho o aspecto de quem tem alguém que se preocupa comigo e que não iria, de todo, deixar uma atitude dessas passar em branco. Talvez se tivesse sido eu (ou qualquer outro passageiro mais apresentável) o senhor tivesse o cuidado de camuflar a sua estupidez latente de modo a preservar o seu emprego.

E olhe que eu acredito na violência! Acho que resolve situações de discórdia. Mas das internas. Daquelas que nos tiram o sono à noite. Das de foro psicológico e pessoal (deduzo que o Sérgio saiba do que eu estou a falar porque tem cara de quem padece desse tipo de problemas e em grande quantidade). Como escape, libertação de adrenalina, exercício. Mas para isso é que existem os sacos de boxe (ou de batatas), os colchões, as almofadas ou qualquer superfície suave. 

Mas pessoas não, Sérgio! Nem sequer pessoas estúpidas, tipo o Sérgio. Pessoas não! Pessoas não são sacos de pancada! E os passageiros são pessoas, não sei se sabe... Mesmo os bêbedos, os sujos, os mal cheirosos, os que falam sozinhos... São pessoas que inclusive pagaram pelo transporte e pagam o seu salário todos os meses. Deve ser difícil para si compreender...é um animal, portanto é possível que ache que são todos iguais a si. Mas olhe que não! São pessoas. E o Sérgio não é ninguém para os tratar como menos. 

Kiss kiss, bang bang,
Catarina Vilas Boas



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Da amargura à inveja - 13 de Novembro

A amargura alheia já é desgostosa de se ver, mas quando é sonora então é insuportável.

O passageiro x (chamemos-lhe assim) passou a sua (e a minha) viagem inteira a destilar veneno pelo seu cúbilo de companheiras cinquentonas. Ele queixou-se do país, da língua inglesa, da língua portuguesa, do frio no comboio, do primo que bebia na universidade e na Corunha (e que por isso era careca), dos pais do primo que lhe faziam as "vontadinhas" todas, das telas da exposição que ele "pessoalmente" não gostava, dos colegas do antigo emprego que ele também não gostava, do possível futuro emprego, do emprego do outro e do que ele não fazia, dos lisboetas e da sua paixão assolapada por Lisboa.


O que eu tinha dito ao passageiro x se pudesse:

  • O país tá uma merda, mas você não está num palanque eleitoral. Está sentado, amigo. Num comboio.
  • A língua portuguesa é a mais bonita do mundo em toda a sua complexidade e esplendor. Só um animal diria o tipo de atrocidades que você está a dizer sobre essa que é a sua língua mãe.
  • Não está frio nenhum. Mas se acha que está, porque não veste o belo do casaco de cabedal que carrega no colo?
  • Se alcoól fosse causa de calvíce eu já não tinha sobrancelhas!
  • Os pais têm o direito de fazer as vontades que bem entenderem aos repectivos filhos. São eles que fazem deste filho da puta de mundo padrasto em que vivemos, um lar.
  • Se, pessoalmente, não gosta das telas, faça do problema pessoalmente seu e poupe a carruagem às suas noções de arte baratas.
  • Preocupe-se em arranjar um emprego para si agora e deixe o antigo (e o dos outros) em paz
  • Eu acho que a rua mais romântica de Portugal é em paralelo, ladeada por plátanos e está em Vila Verde - deixe os Lisboetas e a sua Lisboa! Se não gostarmos da nossa terra, quem gostará?

O passageiro x sofre de um caso de invejicite aguda típico em pessoas que, por não conseguirem fazer e ser melhor, ressentem a vida de todos aqueles que o são e que o fazem. E quem tem tempo para falar (mal) (da vida) dos outros, não tem tempo para fazer a sua rolar. A prova disso é que ele está desempregado, divorciado e careca. Não que eu ache que alguém precise de estar casado ou ter cabelo para ser feliz!! Mas o passageiro x claramente precisava...

Catarina Vila Boas

P.S.: Hoje já não dá, mas amanhã há mais...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Das duas palavras que ela lhe disse (6/11/13)

"Disseste duas palavras, só. Ligaste para dizer duas palavras?". E ele suspira.
Eu deduzo que fosse mulher (de certeza). E deduzo também que estivesse chateada com alguma coisa e que lhe tenha desligado o telemóvel na cara porque o homem hiperventilou pesado nos 15 minutos seguintes. Quanto às duas palavras que ela lhe disse, aposto a minha vida (assim na loucura) em como não foram "amo-te muito".

Já antes tinha reparado naquele moço...Sabia, no fundo do meu íntimo, que tarde ou cedo ele iria fazer parte destas minhas crónicas de umas viagens de comboio. Podia ter sido pelos berros que ele solta ao telemóvel e que fazem com que conversas pressupostamente privadas se tornem de domínio público, ou então por questões tão fúteis como as calças verde ácido que ele carrega nas pernas escanzeladas e a grossa corrente que traz ao pescoço, qual cão agrilhoado. Podia ter sido pelo enorme sentimento que ele desperta em mim sempre que o avisto, aquela sensação inquisitiva de "oh passarinho, mas tu caíste de que ninho?". Mas não. Achei que ele merecia mais do que isso. E por achar isso, sempre que o via entrar na carruagem ficava à coca, como um tigre, só à espera que o passarinho desse um passo em falso suficientemente crasso de ser aqui mencionado. Ontem foi o dia.

Porque depois de ouvir aquele conversa não pude deixar de sentir alguma compaixão. 
Porque toda a gente sofre desamores nem que seja uma vez na vida e porque nestas coisas dos amores somos todos um bocado passarinhos.

Too bad, passarinho. Better luck next time.

Catarina Vilas Boas

P.S.: E não é que nesse dia encontrei o Potter no comboio? Era caso para lhe dizer: "Harry, amigo, enganaste-te na estação"! Mas não disse...oh. 
P.S.S.: Atrás dele ia a versão masculina da McGonagall, com o chapéu.