quarta-feira, 4 de junho de 2014

Um última ode ao Porto. A despedida.

Adoro quando tenho tempo e posso andar pela cidade sem pressas. Respirar todos os pormenores dos edifícios - os arabescos, as varandas majestosas, os telhados pontiagudos, o branco e o cinzento - e também das pessoas - o que fazem, o que vestem, como soa a sua voz uma a uma e no seu todo. Adoro caminhar pelo Porto enquanto o sol me aquece a alma e me abraça o corpo. Adoro, mesmo quando a chuva me espanca e quando o vento me empurra. Não há cidade como a do Porto mas, mais do que isso, não há gente como a que por lá vive. Nunca conseguirei realmente despedir-me daquela cidade. Ela tem em mim um chamamento muito forte. Acho que estou destinada a fazer por lá grandes coisas... Por aqui, neste blog, já fiz tudo o que tinha a fazer.

Se foi grande ou não, não me cabe a mim decidir. Nem almejo o rótulo! Mas foi algo. Foi o aproveitamento de horas e horas de viagem, de outra forma perdidas. Foi o constante teste à minha criatividade, inspiração e capacidade de transpor em linhas os meus pensamentos, tão entrelaçados na sua natureza que, por vezes, nem eu própria os percebo. Foi o renascimento, depois de um ano em que o pouco que fiz não foi, de todo, benéfico para mim. Foi o acordar para a situação cada vez mais precária deste país onde vivemos, reflectida nos rostos dos pais, das mães, dos filhos, dos trabalhadores e dos estudantes com quem me fui cruzando e em quem nunca repararia se não fosse este blog. Foi perceber que a vida é difícil e que também o são as pessoas. Foi a realização de que há-de haver, por aí, alguém que as consiga perceber. Eu não. Foi crescer internamente e ficar mais humana. 
Tudo isso foi este blog. Tudo isso ficará registado não só aqui, como em mim.

Ganhei-lhe um gosto profundo e por isso mesmo, talvez isto não seja realmente uma despedida, mas sim um até já. Quando (e se) voltar será diferente. Sem o comboio mas, espero, com muito para contar.


Foi uma honra,
Catarina Vilas Boas

terça-feira, 27 de maio de 2014

Dos problemas técnicos

Aqueles segundinhos extra que a máquina do revisor às vezes demora a ler o meu passe são os momentos de maior emoção e suspense que tenho vivido nos últimos tempos.

Catarina Vilas Boas

P.S.: O momento de maior surpresa foi mesmo o António Costa e a liderança do PS. Ninguém estava à espera dessa, pois não? Oh! Claro que não... 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Não me canso de dizer

Esta cidade é linda!


Só falta colocarem uma câmara naquela esquininha à beira do ardina, nos Aliados, para captar as figurinhas que as pessoas fazem ao tirar lá fotos. Ficam ali, quietos como tordos, com uma mão no ombro do sujeito e outra a ajudar a segurar no cartaz, enquanto murmuram no entre dentes do sorriso: "já está?". 


Mas não me interpretem mal!! Ir à Invicta e não tirar uma foto junto a este jovem é um crime.

Catarina Vilas Boas

P.S.: A escultura é obra de Manuel Dias e data de 1992. A peça de bronze encontra-se na Avenida dos Aliados, no Porto, como homenagem aos ardinas de outros tempos.

Dão-me pena

Aquelas mulheres que se põem a olhar para mim com cara de enguias mal amadas sempre que como alguma coisa extremamente calórica no comboio. É que já não chegavam todos os preconceitos que assolam a nossa sociedade, agora também há ressabiamento por causa do que uma pessoa come. Porque aquilo é ressabiamento, ninguém me tira da ideia!! Põem-se a mamar batata doce, bagas goji e bolo de salsa com courgette como umas loucas e depois é vê-las por aí, cheias de instintos assassinos sempre que alguém devora um bolo dos a sério ou um pacote de batatas fritas.

Se eu fosse outra pessoa era capaz de me sentir mal com aqueles olhares enviesados e até deixava de comer!! Mas não sou.

Catarina Vilas Boas

domingo, 25 de maio de 2014

Do quanto vale a minha corcunda

Não sou de levar muitas coisas na mala. Não sou mesmo. Ao contrário da maior parte das mulheres eu, num dia normal, carrego comigo a carteira, as chaves de casa, os óculos de sol, um pacote de lenços e fio dentário. Nos dias em que vou para o Porto, no entanto, parece que vou passar férias para um país subdesenvolvido. 

Só em comida carrego 1 quilograma - garrafa de água, bolachinhas e iced tea para o lanche, barra de cereais para meio de tarde, um pão, cereais para o caminho de volta e mais uns quantos snacks. Sou uma rapariga de muito sustento! 

Em produtos higiénicos e cosméticos, outro quilograma - ele é escova e pasta de dentes, ele é lima, ele é corrector de olheiras, e outros tantos etcs que só as mulheres irão compreender. 

O material pseudo escolar depende dos dias, mas geralmente fazem parte do kit - o estojo, o caderno, fotocópias, livros, tablet, carregador do tablet e isto quando não tenho que levar atrás de mim o meu toshiba do tempo das novas oportunidades, que já não fecha em condições, só funciona ligado à ficha e que, depois de um dia inteiro com ele às costas, parece pesar para mais de 5 toneladas. 

Quando faz calor, eventualmente coloco na mala o casaco que me parecia tão acertado de manhã, e a bijuteria que me começa a toldar os pulsos, os dedos, as orelhas e o pescoço - diz-se que quem tem brio não tem frio mas para quem tem calor também não está melhor. Juro, há dias em que chego àquela faculdade que mais devo parecer o Zé Gusto da tasca, com as bochechas vermelhas como um pimento e a suar como uma burra.

Tudo seria mais fácil, pensei eu, um dia, se existissem cacifos nas estações. Em qualquer uma delas estava bom, há coisas que podia deixar na de Braga e outras que podia deixar na de S. Bento. Assim só para me aligeirar um bocado a caminhada até à faculdade de CC que, de tanta inclinação, mais parece uma subida por Sto. António Mixões da Serra.

Em Braga sabia que não havia. Depois de uma breve pesquisa, cheguei à conclusão que existiam SIM cacifos na estação de S. Bento. Fiquei tão contente que mais parecia um puto na manhã de Natal. Cliquei no primeiro resultado googliano e deparei-me com a seguinte tabela.





Sou uma ingénua. É o que é!! Eu acreditei mesmo que, a existirem cacifos, iam ser daqueles de pôr moedinha de 1€, que devolvem a dita cuja uma vez o cacifo aberto. Será que eu, enquanto pobre viajante/burra de carga não merecia essa abébia? Já não basta ter que pagar para usar a casa de banho?? E só até a uma determinada hora!! Sim, porque os responsáveis da CP devem ter tido acesso a algum estudo ultra secreto que chegou à conclusão que as mulheres não têm vontade de urinar a partir das 22h! E poupam assim os trocos que teriam que pagar à "porteira" encarregue de cobrar a tarifa sanitária a partir dessa hora. 

Eu não tenho condições económicas de manter um cacifo sozinha. Se souberem de alguém disposto a partilhar o espaço e as despesas comigo, é favor contactarem-me aqui no blog. Enquanto não aparecem interessados, vou ver se, ao menos, passo a usar a bolsa no ombro esquerdo, porque o direito está meio descaído e eu já pareço o corcunda de Notre Dame versão ladeiro.

Catarina Vilas Boas

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Devaneios de Comboio #8

Saí do facebook para relaxar. Para não me enervar com os erros ortográficos. Para não satirizar as fotos de rabos e mamas e maquilhagens carnavalescas das fêmeas despidas e dos machos bombados. Saí do facebook porque estava farta das mesmas músicas da moda ou das alternativas que todos postavam não porque gostassem mas porque queriam ser diferentes sem o ser. Saí para não padecer do mesmo mal que criticava nos outros quando mantinham pseudo amizades facebookianas e as dilaceravam nas costas uns dos outros na vida real. Saí porque os gostos, os comentários, as mensagens no chat não passam de hipocrisias repletas de segundas intenções. Porque é mesmo assim, principalmente em interacções intersexuais. Já não se batem coros na discoteca, com os copos. Mas no facebook, sob a alçada do monitor. Saí porque estava a ficar muito azeda e descrente do putativo potencial da minha geração..

Fui para o instagram.

No início era tudo muito bonito. Um mar de rosas. Fotos de topo e de bom gosto. Descrições poliglotas de qualidade poética. Eu gostava mesmo daquilo!!  Até que os meus "amigos" do facebook me encontraram...

Foram lançando pedidos como torpedos. Suficientemente tardios e espaçados para que eu os aceitasse sem grande receio. Remorso e arrependimento é tudo o que sinto agora. Porque o instagram mudou. Hoje apresenta-me as mesmas fotos desesperadas, os mesmos erros de bradar aos céus, as mesmas pessoas de sempre que encontro ao virar da esquina e que não acrescentam nada de novo à minha vida, as mesmas frases feitas e repostagens do 9gag, e do Game of Thrones que "aii está a dar de novo!!", e do ginásio, dos sumos detox, das gajas boas e dos gajos que lhes babam idioticamente em cima através do smartphone.

Não é tudo assim, atenção!! Assim como não o era no facebook... Tenho "amigos" e amigos com dois palmos de testa que sabem escrever em português e se vestem de acordo com o tempo. Gosto muito deles. E é por eles que permaneço medianamente activa no ciberespaço.

Não posso, no entanto, deixar de ressalvar que, nesta minha jornada épica, a única plataforma social que não me desiludiu (nunca!) foi o Google+.

Ok, a maior parte dos seguidores têm nomes como "gatinha assanhada" e "joão sempre teso", e fotos de partes íntimas e actrizes porno que os ditos cujos vão buscar à internet. Mas ao menos são abertos nas suas intenções. Nesta feira da ladra social anda tudo ao mesmo! Ao menos no Google+ não há cá merdas. É o que é e acabou!! Eu premeio essa honestidade e mando uma chapadona de luva branca à boca do Zuckerberg, com a cena dele de "ninguém usa o Google+". EU USO! E curto pesado.






Catarina Vilas Boas

P.S.: Não se tem passado nada no comboio, daí os constantes devaneios cada vez mais rebuscados e antissociais.