quarta-feira, 4 de junho de 2014

Um última ode ao Porto. A despedida.

Adoro quando tenho tempo e posso andar pela cidade sem pressas. Respirar todos os pormenores dos edifícios - os arabescos, as varandas majestosas, os telhados pontiagudos, o branco e o cinzento - e também das pessoas - o que fazem, o que vestem, como soa a sua voz uma a uma e no seu todo. Adoro caminhar pelo Porto enquanto o sol me aquece a alma e me abraça o corpo. Adoro, mesmo quando a chuva me espanca e quando o vento me empurra. Não há cidade como a do Porto mas, mais do que isso, não há gente como a que por lá vive. Nunca conseguirei realmente despedir-me daquela cidade. Ela tem em mim um chamamento muito forte. Acho que estou destinada a fazer por lá grandes coisas... Por aqui, neste blog, já fiz tudo o que tinha a fazer.

Se foi grande ou não, não me cabe a mim decidir. Nem almejo o rótulo! Mas foi algo. Foi o aproveitamento de horas e horas de viagem, de outra forma perdidas. Foi o constante teste à minha criatividade, inspiração e capacidade de transpor em linhas os meus pensamentos, tão entrelaçados na sua natureza que, por vezes, nem eu própria os percebo. Foi o renascimento, depois de um ano em que o pouco que fiz não foi, de todo, benéfico para mim. Foi o acordar para a situação cada vez mais precária deste país onde vivemos, reflectida nos rostos dos pais, das mães, dos filhos, dos trabalhadores e dos estudantes com quem me fui cruzando e em quem nunca repararia se não fosse este blog. Foi perceber que a vida é difícil e que também o são as pessoas. Foi a realização de que há-de haver, por aí, alguém que as consiga perceber. Eu não. Foi crescer internamente e ficar mais humana. 
Tudo isso foi este blog. Tudo isso ficará registado não só aqui, como em mim.

Ganhei-lhe um gosto profundo e por isso mesmo, talvez isto não seja realmente uma despedida, mas sim um até já. Quando (e se) voltar será diferente. Sem o comboio mas, espero, com muito para contar.


Foi uma honra,
Catarina Vilas Boas