quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Das duas palavras que ela lhe disse (6/11/13)

"Disseste duas palavras, só. Ligaste para dizer duas palavras?". E ele suspira.
Eu deduzo que fosse mulher (de certeza). E deduzo também que estivesse chateada com alguma coisa e que lhe tenha desligado o telemóvel na cara porque o homem hiperventilou pesado nos 15 minutos seguintes. Quanto às duas palavras que ela lhe disse, aposto a minha vida (assim na loucura) em como não foram "amo-te muito".

Já antes tinha reparado naquele moço...Sabia, no fundo do meu íntimo, que tarde ou cedo ele iria fazer parte destas minhas crónicas de umas viagens de comboio. Podia ter sido pelos berros que ele solta ao telemóvel e que fazem com que conversas pressupostamente privadas se tornem de domínio público, ou então por questões tão fúteis como as calças verde ácido que ele carrega nas pernas escanzeladas e a grossa corrente que traz ao pescoço, qual cão agrilhoado. Podia ter sido pelo enorme sentimento que ele desperta em mim sempre que o avisto, aquela sensação inquisitiva de "oh passarinho, mas tu caíste de que ninho?". Mas não. Achei que ele merecia mais do que isso. E por achar isso, sempre que o via entrar na carruagem ficava à coca, como um tigre, só à espera que o passarinho desse um passo em falso suficientemente crasso de ser aqui mencionado. Ontem foi o dia.

Porque depois de ouvir aquele conversa não pude deixar de sentir alguma compaixão. 
Porque toda a gente sofre desamores nem que seja uma vez na vida e porque nestas coisas dos amores somos todos um bocado passarinhos.

Too bad, passarinho. Better luck next time.

Catarina Vilas Boas

P.S.: E não é que nesse dia encontrei o Potter no comboio? Era caso para lhe dizer: "Harry, amigo, enganaste-te na estação"! Mas não disse...oh. 
P.S.S.: Atrás dele ia a versão masculina da McGonagall, com o chapéu.

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