sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Da culpa do Outono

Esta semana de viagens não foi muito produtiva no que toca a material de reflexão. Valeu-me o Fiódor Dostoiévski e o seu "Crime e Castigo". E como um livro é como um amigo e eu este já o li, a nossa conversa a dois acabou por não ser muito surpreendente...

Entristece-me dizer que o nível de qualidade dos passageiros das "minhas" viagens está a aumentar. Das duas uma: ou o frio e a chuva afastaram  os esquisitos (que falam esquisito, que cheiram esquisito, que fazem esquisito...) e sendo assim viva o Outono e venha daí o Inverno!! Ou sou eu que já não possuo o espírito crítico inicial e me fui habituando à ideia de não ver defeitos nos outros. Gosto da primeira hipótese - que se isto das estações anulasse determinada espécie de pseudo-gente o mundo seria um lugar muito mais convidativo- mas, infelizmente, o meu bom senso faz com que tenha a perfeita noção de que a segunda será, muito provavelmente, a verificável. E sendo assim TIREM-ME DAQUI!! JÁ NÃO PERTENÇO A ESTE MUNDO! FUI RAPTADA POR ETS! TROCARAM-ME! 

Percebam o meu desespero: não creio que seja alguma coisa sem o meu aguçado e parcial espírito crítico. A minha essência é a capacidade de vislumbrar defeitos e o negativo mesmo antes deste acontecer, quando ele está a léguas de distância, muito antes de ele pensar sequer em dar um "oi!". E quando as coisas más acontecem (e acontecem sempre), eu retiro logo à partida e de imediato algo de positivo - o velho "Tinhas razão, Catarina! És tão foda!". É o meu "je ne sais quoi"!! É aquilo que me explica sem explicar!

E quem sou eu sem o meu "je ne sais quoi"? Como é que eu vou ser feliz avaliando-me a mim mesma como uma gota igual às outras num mar de qualidades e defeitos de gente? 

Oh - orgulhosa. Oh - teimosa. Oh-impulsiva. Oh - ciumenta. - tooooda a gente é assim!! 
Uns mais, outros menos, mas são defeitos internamente aceitáveis. E eu não posso ser aceitável!! Eu não posso ser "uma" eu tenho que ser "A". TENHO QUE SER "A" pelo menos para mim!! Como é que vou olhar-me ao espelho, todos os dias, e pensar que perdi o meu brilhantismo doentio maléfico irónico (um pouco sádico) de negatividade?? Não posso.

E dito isto, fuck it, a culpa é do Outono.

Catarina Vilas Boas

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