Percebam do que falo: uma crise de choro não é aquela sonora, repleta de lágrimas de crocodilo usadas e abusadas em busca de atenção gratuita. Não. Não estou a falar de choros de criança ou de pitas que pensam que o namorado labrego é o Romeu do séc. XXI. Não. Estou a falar de gente adulta com problemas também eles adultos. Estou a falar de lágrimas barulhentas no seu silêncio e tão fugidias que nem a presença de um estranho consegue parar. Estou a falar de pensamentos doridos demais, que lavam faces carregadas como a água de um chuveiro. Estou a falar de tokens de insegurança, aos milhares, arrecadados. Que nascem da nostalgia e de pensamentos que se criam nos minutos mortos de uma viagem e de um desespero que não parece ter fim. Pais, mães, novos, velhos, pessoas que dependem e fazem depender de si mesmos. Cansados. Do casamento falhado, dos cortes, dos impostos, do chocolate ou tempo que não podem dar aos filhos, das feridas físicas e espirituais que não cicatrizam, da saudade de uma vida mais fácil, da violência do dia-a-dia, da chegada - que nunca mais é - a um porto de abrigo onde estão os tempos áureos, o final da crise, a cura para o cancro, a luz ao final do túnel de que todos falam há tanto tempo e ninguém viu. Ninguém vê.
Uma lágrima alheia faz-nos colocar toda uma vida em perspectiva. Em segundos aquilo que parecia tão importante deixa de o ser. Os problemas não são assim tão grandes. Tão incontornáveis. Tenho um tecto, comida, roupa, estudos (porque posso - há quem os queira e não possa), e tantos outros "tesouros" materiais que almejei em tempos e me são, agora que os possuo, inúteis, irrelevantes, desprezíveis nesta era de consumo descartável. Que é que me falta, afinal? Nada.
Nunca chorei no comboio. Mas há quem chore.
Catarina Vilas Boas
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